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Professora quilombola de Itacuruba foi tema do primeiro Trabalho de Conclusão de Curso da Especialização em Educação Intercultural, no campus Floresta

Resgatar as memórias e saberes da comunidade, esse é um dos objetivos de Dona Valdeci Ana, professora e liderança do Quilombo Poço dos Cavalos, da cidade de Itacuruba, cujas atividades pedagógicas foram estudadas e se tornaram tema do Trabalho de Conclusão de Curso da Especialização em Educação Intercultural: Indígenas e Quilombolas. Apresentado na manhã da última sexta-feira, dia 14 o trabalho intitulado “A pedagogia de Valdeci: lutas e papel sociopolítico de uma professora quilombola no Sertão de Pernambuco”, marca a primeira apresentação de TCC da especialização em Educação Intercultural, curso iniciado no Campus Floresta do IF Sertão-PE no ano de 2018.

 


Maria Rosicláudia foi a primeira aluna da Especialização em Educação Intercultural a apresentar um Trabalho de Conclusão de Curso

A aluna Maria Rosicláudia dos Santos foi orientada pelo professor e antropólogo Whodson Silva. Ela conta que foi uma experiência bem diferente, haja vista que na graduação não houve apresentação para uma banca avaliadora, apenas a entrega de um artigo. A inspiração para o trabalho científico veio da própria comunidade quilombola. “No meu trabalho eu quis fazer uma homenagem à liderança da minha comunidade, dona Valdeci, uma mulher guerreira que trouxe para si a responsabilidade de manter a nossa cultura e nossos saberes. Eu sei que ela é importante dentro da minha comunidade, mas eu queria que todos soubessem da história dela, da história da minha comunidade, por que a gente sente a necessidade de expandir, isso é bom para a busca dos nossos direitos, para as pessoas conhecerem o que é que a gente reivindica, que é nossa terra, que é uma escola em nosso território”, afirmou Maria Rosicláudia.

Quando perguntada como é a pedagogia de Valdeci Ana, que consta no título do TCC, Dona Valdeci responde com simplicidade, “a pedagogia em si é a forma de ser, é a forma de trabalhar, é a forma de ensinar do nosso jeito, do jeito que a gente é, tendo em vista o nosso contexto, a realidade que a gente vive. Os nossos saberes são todos partidos da própria realidade e vivência da comunidade. É a forma como a gente vive, como a gente aplica, como a gente ensina e como a gente aprende”.


A banca avaliadora do TCC foi formada pelos professores Whodson Silva, Hosana Celi Santos (UFPE), e Vânia Fialho (UPE)

O trabalho junto ao povo quilombola retratado no TCC e desenvolvido por Dona Valdeci envolve resgate histórico das famílias originárias, música, danças ancestrais, e até mesmo brincadeiras. “Muitas vezes eu reúno a criançada, os jovens, e pergunto quem sabe contar a história de alguém? Aí um diz, ‘minha avó contava história tal’, e a partir desses saberes que eles vão adquirindo o que os mais velhos deixaram pra gente. Na questão da cultura, por exemplo, as pessoas trabalhavam o dia todo mas à noite ninguém tinha cansaço, sempre alguém chegava para divulgar ‘hoje tem Palma no terreiro da casa de fulano’ e todo mundo ia pra lá à noite dançar a Palma. O que é a palma? É uma dança em que as pessoas se reúnem em forma de roda, tem um número exato para dançar 8 pessoas, 16, 32 no máximo, onde as pessoas cantam e vão criando versinho próprios da comunidade, vão criando versinhos sobre a vivência. Além disso ensino outras cantigas de roda, as brincadeiras, eu estou tentando trazer isso para hoje. Antes os velhos brincavam com os jovens, tinha a brincadeira do grilo, do anel, do pula corda; os mais velhos rodavam a corda enquanto os jovens pulavam, e tudo isso definia uma vida alegre e saudável. Hoje a gente está tentando reconstruir”, contou dona Valdeci.

Ao fim da apresentação o trabalho de Maria Rosicláudia foi aprovado, com nota dez. De acordo com a aluna a especialização oferecida pelo Campus Floresta do IF Sertão-PE foi muito importante. “A Especialização em Educação Intercultural só me fortaleceu enquanto quilombola, enquanto professora, tudo foi aprendizado que vou levar para minha vida profissional. Eu indico para outros professores indígenas e quilombolas, com certeza! O curso é muito bom e voltado para os povos tradicionais; trabalha diversos pontos sociais e só tem a fortalecer ainda mais a educação e cultura dos povos indígenas e quilombolas”, afirmou Maria Rosicláudia. 


Dona Valdeci acompanhou a apresentação do TCC sobre seu trabalho pedagógico e comemorou junto com a aluna a aprovação

Para a professora Valdeci que hoje está com 65 anos de idade, o sentimento de ser a personagem principal de um Trabalho de Conclusão de Curso da Especialização em Educação Intercultural: Indígenas e Quilombolas, é muito gratificante, sendo uma das grandes oportunidades da vida dela. “Eu não sabia que eu era tanto quanto a menina colocou no estudo dela. Por que a gente faz, a gente fala, a gente executa mas, as vezes nem percebe a essência da coisa que a gente está fazendo, né? E a gente procura entender a partir do momento em que os outros nos apresentam. Mas pra mim foi um sentimento muito relevante na minha vida. Mas falta ainda aprender muito, muito, muito!”.

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