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Professora relata como enfrentou o câncer de mama

Neste mês de outubro, mês do movimento de estímulo à participação da população no controle do câncer de mama, a professora do campus Petrolina Zona Rural do IF Sertão-PE, Mary Ann Saraiva Bezerra, aceitou contar sua história. Uma história de fé, determinação e muita vontade de viver. 

"As mulheres têm que fazer o autoexame"

Mary Ann tinha 36 anos quando percebeu, através de um autoexame, que tinha algo de diferente em sua mama. Cerca de seis meses antes, ela havia passado por uma cirurgia de redução da mama, e nada tinha sido identificado. “Eu sou vítima de erro médico, eu cheguei a fazer uma plástica de mama tendo câncer de mama. A mamografia e a ultrassom constavam, mas foram laudadas como normais. E aí quando fui operada de redução de mama terminou espalhando célula cancerígena para o corpo inteiro”, conta.

A estranheza percebida ao toque não foi ignorada. A professora foi seguidamente a médicos que lhe explicavam que era uma cicatrização diferenciada decorrente da cirurgia plástica, que levava a um tecido mais endurecido. Mesmo depois de alguns meses ouvindo a mesma explicação, Mary Ann insistiu e procurou outros profissionais. “Fui em outra médica e quando ela tocou sentiu que não era cicatrização. Me encaminhou para fazer uma ultrassom. Até então eu não pensava que estava com câncer de mama. Até porque eu tinha 36 anos, tinha feito mamografia, tinha todos os exames normais, tinha feito uma plástica na mama, tinha biopsiado o que tinha sido tirado da mama e nada disso identificava”.

Já no exame de ultrassonografia, Mary Ann viu imagens muito diferentes do que é uma mama normal. Em uma semana, ela estava com o resultado. “Lembro que era mais ou menos 15h30 do dia 4 de outubro, eu abri o resultado e estava lá: câncer de mama em estadiamento ‘3D’, câncer de mama invasivo”, relembra. A professora conta que foi para casa e chorou. “Se você me perguntar se eu achava que eu tinha coragem eu vou te dizer que eu achava que não tinha. Na verdade você descobre a coragem até que você não tem”, disse.

No final daquela mesma tarde, Mary Ann estava na sala de aula. Talvez ali, tivesse tomado a decisão mais importante: não se entregar, encarar de cabeça erguida todo o percurso que viria a percorrer. “Contei para minha mãe, minha irmã, eu mesma contei para minhas filhas, a mais nova tinha acabado de fazer 12 anos, a outra tinha 14. Eu fui para sala de aula, disse para meus alunos, não escondi de ninguém. Falei para eles que estava suspendendo as aulas por uma semana para fazer exames e que daria aula sábado e domingo para repor o que ia faltar”.

Mesmo durante o tratamento, Mary Ann não deixou a sala de aula

O PROCESSO E A FÉ – Quando foi identificado, o tumor já era do tamanho de uma laranja, pressionava o nervo do braço e provocava muita dor. “Eu já tinha metástase. Eu tive muita sorte. Quando eu descobri o câncer de mama descobri num estadiamento chamado ‘3D’, no qual a chance de viver dois anos é cerca de 60%, de viver 11 anos é nem um por cento. Mas eu sempre digo que nessas contas estatísticas o homem precisa colocar um componente chamado Deus”. 

Esse componente, a fé, juntamente ao apoio de sua família, foi sua maior fortaleza. Quando ia realizar seus primeiros exames após a descoberta da doença, Mary Ann conta que teve um sonho com Nossa Senhora de Fátima, que lhe pegava pela mão e indicava um consultório no qual seria conduzido o tratamento. “Eu tinha três consultas marcadas naquele dia. No primeiro consultório que entrei tinha umas 20 imagens de Nossa Senhora e a médica estava com uma imensa medalha de Nossa Senhora de Fátima. Ela me disse que era um tratamento difícil, que eu iria retirar a mama e não poderia reconstruir, porque o tumor era muito grande e com características muito agressivas. Eu não fui aos outros médicos. Iria me tratar com aquela médica. Eu não sabia, mas Drª. Isabel Cristina Pereira é portuguesa, nasceu na região de Fátima”, relata. 

Mary Ann seguiu com as aulas, o que também lhe dava forças para enfrentar o tratamento e momentos difíceis. “Um tratamento desse é muito difícil. Só quem tem a dimensão é quem passou. O tratamento inicial durou um ano e sete meses, entre cirurgia, químio e radioterapia. Eu imaginei que quando eu fosse ficar careca eu ia chorar. No décimo quarto dia de tratamento eu acordei e nunca vi tanto cabelo em uma cama. Eu raspei, escolhi uma peruquinha curtinha, que eu usava para sair como se fosse um chapéu, porque o sol daqui é muito quente. Quando eu fiquei careca eu não chorei. Até achei que tinha ficado bonitinha”.

Como tinha alertado a médica desde o primeiro encontro, a retirada total da mama teria que ser feita. “Todo mundo fica preparando a paciente para o dia que ela vai olhar no espelho e não vai ter a mama. Porque o cabelo cai, mas ele volta. E a mama é pra sempre. Pode até reconstruir. Mas eu nunca optei por reconstruir. Hoje se eu quiser fazer eu já posso, mas eu não quero. Sabe o que eu descobri? A gente tem tantas outras coisas além da mama. Se o nosso amor-próprio estiver limitado a uma mama que existe ou não, eita amor vagabundo! Eu sou despeitada literalmente. Nunca deixei de ser feliz, nunca deixei de sorrir. Eu não sou menos mulher por isso”. 

Cinco meses após o término do tratamento, a doença reincidiu. Foi quando Mary Ann conta que viveu sua maior experiência de fé, ao ver o tumor desaparecer após uma única dose de medicamento. “Eu participava de um grupo de oração e durante um momento comecei a ver luzes muito fortes. Nessa hora eu senti que os raios da misericórdia de Deus estavam a me curar. Eu sou bióloga, alguém pode dizer que isso é invenção, mas senti uma parte de meu corpo muito quente, como se as células estivessem queimando. Uma semana depois fui fazer o exame para ver se a droga tinha controlado o crescimento do tumor. E o tumor sumiu. Até então eu tinha muito medo de morrer e esse medo foi completamente transformado em fé”. 

Mesmo assim, Mary Ann continuou o tratamento por mais um ano. “Quando eu saí dessa segunda etapa do tratamento, que foram três anos e meio, a minha mais velha estava cursando Medicina e a mais nova prestando vestibular de Direito. Passei a pedir a Deus que eu conseguisse formar minhas filhas. Esse ano eu formei as duas. Hoje eu só agradeço”.

Onze anos depois de se descobrir com câncer de mama, Mary Ann alerta todas as mulheres para a importância do autoexame, para o cuidado consigo mesma. “Quando você passa por um tratamento desse o seu corpo não é mais o mesmo. Você tem que redimensionar sua vida. Não suporto a ideia de coitadinha, nunca fui. Coitada não, abençoada. As pessoas precisam começar a ter menos medo de câncer, as mulheres têm que fazer o autoexame. Foi um autoexame que me salvou. Agradeço muito a Deus por estar viva até agora. Pelo dia de hoje”. 

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